segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Bernardo Guimarães


Casa onde viveu Bernardo José da Silva Guimarães, serviu, durante várias décadas do século XX, de asilo de velhos da Sociedade São Vicente de Paulo; atualmente o imóvel é uma das dependências da FAOP (Fndação de Arte de Ouro Preto).

Públio Athayde



Bernardo Guimarães - Era filho de João Joaquim da Silva Guimarães, também poeta, e de Constança Beatriz de Oliveira Guimarães. Ele se casou com Teresa Maria Gomes Guimarães, e tiveram oitos filhos: João Nabor (1868-1873), Horário (1870-1959), Constança (1871-1888), Isabel (1873-1915), Affonso (1876-1955), José (1882-1919), Bernardo (1832-1955) e Pedro (1884-1948).

Formou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1847, e nesta cidade tornou-se amigo dos poetas Álvares de Azevedo (1831-1852) e Aureliano Lessa (1828-1861). Os três e outros estudantes fundaram a Sociedade Epicuréia. Foi nessa época em que Bernardo Guimarães teria introduzido no Brasil o bestialógico (ou pantagruélico), que se tratava de poesia cujos versos não tinham nenhum sentido, embora bem metrificados. A maioria dessa poesia não foi publicada porque era considerada pornográfica, e se perdeu. Para alguns críticos, o melhor do escritor seria o bestialógico. Um exemplo dessa produção (não-pornográfica) é o soneto Eu Vi dos Pólos o Gigante Alado. Wilkpedia

Eu vi dos pólos o gigante alado

Eu vi dos pólos o gigante alado,

Sobre um montão de pálidos coriscos,

Sem fazer caso dos bulcões ariscos,

Devorando em silêncio a mão do fado!

Quatro fatias de tufão gelado

Figuravam da mesa entre os petiscos;

E, envolto em manto de fatais rabiscos,

Campeava um sofisma ensangüentado!

– "Quem és, que assim me cercas de episódios?"

Lhe perguntei, com voz de silogismo,

Brandindo um facho de trovões seródios.

– "Eu sou" – me disse, – "aquele anacronismo,

Que a vil coorte de sulfúreos ódios

Nas trevas sepultei de um solecismo..."

Bernardo Guimarães

domingo, 21 de dezembro de 2008

Presépios

O terceiro lugar:
"Tradição religiosa fundada na idade média por São Francisco de Assis, o presépio encontra em Minas uma de suas vertentes mais criativas.

Manifestação de cultura popular, pontuada de fantasia, o nosso presépio projeta o episódio do nascimento de Jesus no cenário singelo das pequenas vilas incrustadas nas montanhas.

"Nas cidades do interior mineiro, a montagem do presépio constitui um comovente ato devocional, familiar e coletivo, que se inicia com a preparação da gruta, a colheita de musgos e areia branca, até “armagem” na véspera do natal, incorporando, nesse ato, cantos e ritos do nosso folclore. Tudo envolto na mais completa magia, feita de arte e devoção, fantasia e expectativas.

Para manter viva a tradição cultural e religiosa e resgatar o sentido poético e singular do presépio mineiro, a FAOP instituiu o Concurso de Presépios, promovido anualmente. Esse evento tem também a finalidade de estimular experiências de criações contemporâneas, proporcionando uma releitura da antiga tradição.

As obras premiadas, integradas ao acervo da FAOP, constituem conjunto exemplar da criatividade de nossos artistas.
Atualmente o acervo de presépios populares da FAOP possui 18 obras feitos por artistas mineiros, em especial, de Ouro Preto."
A exposição foi no CAEM
Na foto abaixo, dentre todas gentilmente cedidas por um jornalista do Estado de Minas, à época, os vencedores do Concurso de Presépios de 1970(?), à direita o rapaz que tirou o primeiro lugar, ao centro Bené da Flauta, segundo lugar, e eu, contentíssimo com a terceira colocação: ganhei um cheque de $300,00 - qual era mesmo a moeda da época? O presépio do Bené da Flauta hoje está na coleção de Julio Varela, o meu foi doado à Escola dom Velloso e se perdeu por lá.

Alguém sabe quem é o rapaz que tirou o primeiro lugar e onde foi parar o presépio dele?

A Padroeira

Cônica de
Luís Fernando Veríssimo

"A pequena Capela de Nossa Senhora do Rosário do Padre Faria é uma das tantas jóias arquitectónicas de Ouro Preto, Minas Gerais. O exterior despojado não prepara o visitante para a opulência barroca do interior. O campanário fica afastado do corpo da igreja, como a “casinha” numa morada sem banheiro, e nada tem de imponente. Os sinos da Capela do Padre Faria badalam em concerto com os outros sinos da região, cantando as horas e os eventos, e não soam nem melhor do que os outros.

Mas os sinos da Capela do Padre Faria têm uma história diferente dos outros. Quando Tiradentes foi enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro, todos os outros celebraram a notícias. Afinal, tratava-se da execução de um traidor, de um inimigo da sociedade. Os sinos de Ouro Preto festejaram o castigo exemplar de um réprobo e o triunfo da legalidade sobre a rebeldia. Mesmo que o toque festivo não tivesse sido recomendado pela Coroa, a celebração se justificaria. Mas os sinos da Capela do Padre Faria dobraram Finados. Pela primeira e única vez na História, talvez, os sinos da Capela do Padre Faria destoaram do concerto. Tocaram, sozinhos, uma batida fúnebre pelo martírio de Tiradentes."

Leia na íntegra clicando aqui.


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Olímpia Cota


Fotos de
Joel Marinho


Por Fernando GABEIRA
“Dona Olímpia, ao perceber, nas primeiras décadas de sua vida, que não ia mesmo se casar, caiu no mundo. Teve forças para ignorar a pressão da sociedade que a envolvia, mas resolveu ver de perto. Roupa? Era simples. Bastava inventar, usando um vestido sobre o outro. Horário? Para que, se o frio e o escuro lhe indicavam a hora de dormir e a ligeira pontada no estômago lembrava que tinha fome?

Passou a andar com um cajado na mão, o rosto muito pintado e o chapéu de uma antepassada. A cidade é feita de becos, ruelas e ladeiras. Ela subia e descia, chegando às vezes lá no alto, na Igreja de Santa Ifigênia. Apesar do cajado, do olhar em fogo, ela não pregava nada, nem falava em melhorar a vida na terra. E a ladeira é algo estranho, que desafia mesmo os seres chamados normais. Sim, porque a cabeça chega em cima muito antes das pernas, de forma que cada ladeira é um mergulho no inconsciente, um deliberado abandono do corpo, condenado a repetir mecanicamente o mesmo gesto."



ATHAYDE, P.
Detalhe de Primavera,
OST, 2007.

Olímpia: Obra de Chiquinho de Assis gravada pela Orquestra Experimental da UFOP para o filme Compositeurs de hier et d'aujourd'hui de Luc Riolon. Uma produção 24 images, América Mundi Filmes e Rede Minas.




quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Meio-dia no Padre Faria

Fiquei imaginando qual seria, há 200 anos, o som da noite no lugar mesmo em que nasci ... Quando ali haveria poucas cavernas e a centésima parte das pessoas dentre as quais eu vivo. E muito poucos lumes e candeias competiam com a radiação dos astros.
Entendi então que, para ter uma idéia qualquer sobre a noção de som, a compreensão de tons e a melodia da música colonial, o ponto de partida seria a aceitação do fato de que os habitantes das cavernas por perto de onde eu nasci, 200 anos antes dessa efeméride, seriam em número muito menor, teriam muito menos fogos a crepitar pela noite, ficariam muito mais recolhidos depois de o sol se por... E estariam muito mais propriamente afetados pela calada da noite. E não é na calada da noite – agora no sentido moderno mesmo da expressão – que estamos mais afetados pelos medos, pelas melancolias, pelos fantasmas e pelas fés? Acredito que a centésima parte das pessoas produzam a centésima parte dos ruídos e tenha motivos para ter cem vezes mais medos.

Veja o texto completo clicando aqui.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Caixa d'Água, na Água Limpa


Essa caixa d'água é quase desconhecida dos forasteiros, fica na Água Limpa e, certamente, deve-se à ela o nome do bairro. Muita gente nascida e criada na cidade nunca viu essa construção tímida e charmosa. Não encontrei, até o momento, nenhuma referência sobre sua edificação. Suponho que seja do século XIX, mas sem nenhuma certeza.

Não sei se se trata de construção pública ou privada, hoje é de uso público. As águas que lhe excedem formam uma bica usada para banhos nos dias quentes do ano. Depois, as águas vão para o Rio Doce, correm meia Minas antes do Espirito Santo e desaguar no Atlântico.

Quando eu era criança, era-me proibido ir lá: gente tomando banho nua! Um escândalo.

A região toda à sua volta foi arrasada pelo rompimento da barreira de um depósito de água formado à montante da rodovia pelo entupimento da rede de escoamento, creio que em 1997, corrijam-me, mas tudo já foi reconstruído.

Colégio Arquidiocesano de Ouro Preto

Estacionamento na frente do Colégio Arquidiocesano
Colégio em que o clero ouro-pretano, por décadas a fio, transmitiu seus valores e sapiência à juventude da cidade. Estudei aqui por mais de dez anos. Boas memórias e minha gratidão a muitos bons professores que fizeram de mim, na medida de sua contribuição, parte boa do que sou.
Veja também neste blog: Tancredo Neves - Mensageiro da Liberdade  - Ouro Preto em tintas - A coleção do Museu do Oratório - Raridade: Ouro Preto em 1968

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Ouro Preto em tintas

Segundo Ricardo Arreguy Maya:

“Das lúgubres lombrigas aos lapsos pós-maçônicos, Públio Athayde empreende uma parábola de grande introjeção. Às vezes cavaqueado e carnavalizante, tudo ali transpira. Entrementes, a julgar pelos adornos tipicamente neo-kantianos, impõe-se com sua prosódia em prosopopéias de grande subjetivismo acutangular. Engajado e engajante, pinturesco, sua messe quase messalínica e telúrica atua como metaplasmas lingüísticos em sua ode à frialdade pagã.”

Ricardo Arreguy Maia é
Aprendiz de Polyhistor
e servente de pedreiro
na beirã da albufeira da Aguieira,
em Santa Comba Dão.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Praça Tiradentes no século XIX

Das fotos mais antigas de Ouro Preto, feitas, calcula-se, entre os anos de 1870 e 1875. Elas integram coleção do Museu da Inconfidência e, anteriormente, pertenciam ao IPHAN. Foram parte da exposição Ouro Preto, Imperial Cidade - 1823-1889, realizada pelo Museu da Inconfidência no período de 22 de maio a 9 de julho de 1998 e, até aquela data, tinham autoria desconhecida.
Praça Tiradentes com Coluna Saldanha Marinho, obras no "Pilão"
O Palácio dos Governadores, atual Escola de Minas; ao centro, a Coluna Saldanha Marinho, primeiro monumento comemorativo da Inconfidência; à direita, o antigo Fórum, a casa da Baronesa de Camargos e a Câmara Municipal; à esquerda, o conjunto assobradado, projeto de José Fernandes Pinto Alpoim. A parte frontal do prédio do palácio apresenta o traçado clássico da fortificação militar. O projeto não foi concluído à época e os acréscimos posteriores, ao fundo e ao lado mais recentemente, fugiram completamente ao original de Alpoim.
 Veja também neste blog: Ouro-pretano, quem és?Tancredo Neves - Mensageiro da Liberdade - Desarticulando - Ideias ouro-pretanas - 21 de abril em Ouro Preto III



Ponte do Pilar

Uma das mais antigas pontes da cidade, construída em alvenaria de pedra sobre o córrego de Ouro Preto ou do Xavier. Possui arco único em pedra de cantaria, passeios em lajes de pedra e calçamento original tipo pé-de-moleque. Construção: 1757 Arrematante: Francisco Esteves. Por trás do cruzeiro se entrevê a casa onde funcionou a Faculdade de Direito, depois transferida para Belo Horizonte, hoje integra a UFMG.

domingo, 7 de dezembro de 2008

AQUIJA/ ZEM/ OS RESTOS/ DOIRMÃO/ I.F.C./ FALLECID-/ DO/ A 21 DE JULHO DE 1880/ ORAI POR/ ELL

Análise de documentação arquitetônico-funerária: As lápides representam a tentativa de permanência, o recado para a posteridade. E podem representar muito mais. O interesse dos historiadores por esse tipo de legado é corrente em diversas correntes historiográficas. Elas são, inegavelmente, fonte; registro palpável de dados e de vontades e idéias pretéritas. Fonte de história local, das mentalidades e inclusive outras vertentes.

Este texto está desenvolvido em um capítulo do livro:


Autor: Públio Athayde

Veja o livro a venda

Ponte do Rosário

cabeças. ponte aziaga.
santos dummont à direita é uma praga
que deixa multidões na incerteza.
se a bomba que relincha nas cabeças,
zona e curral, avião levados às pressas
vê a morte em terror, toda a beleza
do vão dos corpos queimados, uma sorte
de absurdos gêmeos, uns quilates
de metais raros, sondados pelos vates.
por modernas incursões hiberna
do verso, este terrível acessório,
que faz da vida, morte. morte eterna!
(ponte: cabeças)
(per augusto)
e tudo volta à terra
como terra, sempre!
(fecho, per augusto)
Por Romério Rômulo

O Rosário e o Itacolomi

Um Poema em Ouro Preto
(Lidiane Lobo)


Fiz um poema em Ouro Preto
que criou vida própria
e me disse:
Adeus!
Preferiu ficar por lá…
Eu entendo.
Dele ficou uma vaga lembrança…

Aí está.

Tuas manhãs claras
teus sinos que soam a cada hora lenta
teu céu de noite tão estrelada
teu sabor

Cada pedra dessa ladeira
cada passo
cada rua Direita
cada sonho: liberdade
e as idéias…

Se olho para cá
vejo o Itacolomi
Se olho para lá também
Se olho para cá
vejo uma igreja
Se olho para lá também
Se olho
vejo uma história

Um anjo sem mãos esculpiu a tua face
Um doce Guignard tocou-lhe com o pincel
E muitos, muitos outros
Com os quais sonho

Quem foi Tiradentes
não sei bem.
Mas vi uma marca de sangue
estampada ali na praça
e que não quer
nem irá perder-se

Chica da Silva, Chico Rei,
Dirceu, Marília…
Não sei bem
não sei, não sei, não sei…
Mas, sim,
certemente
eu os vi

Ouro Preto agora
aponta-me outros caminhos
por uma estrada
nem sempre real

Como estará o meu poema que deixei por lá?

Em destaque a Igreja do Carmo.


Poesia de Ouro Preto (Fragmento)

(Henriqueta Lisboa)

Ó cidade de Ouro Preto
Boa da gente morar!
Numa casa com mirantes
Entre malvas e gerânios,
Ter os olhos de Marília Para cismar e cismar.

Numa casa com mirantes
Pintada de azul anil
Sobre a rua de escadinhas
Que é um leque em poeira, de sândalo,
Passar na janela o dia
Vendo a vida que não anda.

E de noite vendo a lua
Como uma camélia opaca,
Flor sem perfume, de jaspe,
Abrir o baú de folha
Que é lembrança de família,
Baú onde criam mofo
Cartas velhas e retrato
De um ingrato namorado.

Igreja e Cemitério das Dores

Portugueses da Irmandade Dolorosa de Braga construíram sua capela com doações, pois gozavam de grande prestígio na comunidade mineradora. Anualmente, a Paróquia de Antônio Dias realiza nela o Setenário das Dores. Construção: 1788


Soneto da Defunta Formosa

Alphonsos de Guimaraens

Temos saudade, pálida formosa,

De tudo quanto o pôr-do-sol fenece:

Ou seja o som final de extrema prece,

Ou seja o último anseio de uma rosa…

E mais ligeiramente a gente esquece

Uma hora que a alma de carinhos goza,

Que de ter visto, em roxa luz saudosa,

Uma imperial tulipa que adoece…

Um lírio doente no caulim de um vaso

Faz-nos lembrar um luar em pleno ocaso

Morrendo ao som das últimas trindades…

E nem eu sei, amor, por que perguntas,

Tu que és a mais formosa das defuntas,

Se eu de ti hei de ter loucas saudades.

Chafariz, Igreja das Dores, Morro do Cachorro

O chafariz em primeiro plano, parietal, constituído de paredão em canga argamassado, com muro se estendendo para os dois lados. Traz a data de 1761, mas não há registro de documentos que se referem à sua construção.

A atual Igreja de N. Sra das Dores data de 1835, mas por falta de documentação desconhece-se o autor do projeto. Possui imagem de N. Sra. das Dores, originária da cidade portuguesa de Braga. Destaque também para uma banqueta com seis castiçais de talha dourada e duas mesas D. João V utilizadas para os ofícios divinos.

O Morro do Cachorro se destaca na paisagem, visto de diversos pontos da cidade. Nele foi instalada boa parta da parafernália de comunicação que atente a população: antenas, e coisas do gênero.

Chafariz da Coluna

Totalmente desfigurado, já não possui tanque nem bicas. Freqüentemente confundido com um pelourinho ou com outro tipo de monumento, hipóteses de usos secundários que não se pode descartar, tanto pela memória coletiva quando pela aplicabilidade plausível.

Eu "Ouro Preto" - Ouropretar é viver os tempos da cidade, o tempo de agora, pois a cidade está viva, pulsante, se transformando, crescendo. Ouropretar é viver Vila Rica no tempo geológico, de seus morros que escorrem quando a piçarra satura de águas, em aluviões de ouro ou de morte, riqueza ou miséria. É viver os tempos das artes, nos resquícios de saramenha, nos contrafortes de São João, nos arcos das sete pontes. É chorar por um verso de Dirceu e por um compasso de Lobo de Mesquita. Ouropretei Nelo Nuno e ouropretei Jair Inácio. Ouropretava Honório Esteves e ouropretava Athayde se tivesse tido chance. Mas podemos ouropretar tudo de melhor desses quantos, pois, assim como a cidade, permanecem. Ouropretar é viver nos tempos do calendário, até mesmo da folhinha de Mariana, tão certa no tempo da chuva, do sol e do vento quando podem ser as tabelas canônicas. É viver os tempos das festas e das rezas: Amendoim, Setenário, Bom Jesus, Reisadas, Semana Santa, Cinzas, e mais meia dúzia para cada altar pela cidade afora, mais uma para cada cruzeiro, ponte, passo, oratório ou promessa feita. Ouropretar é namorar no adro, conhecer pelo menos uma centena de nomes da aguardente de cana – goste dela ou não – e saber que remédio era a cardina que mitigava as penas do Aleijadinho.

Leia este artigo na íntegra!


Passeio noturno por Ouro Preto acompanhado de Virgílio e Chopin.

sábado, 6 de dezembro de 2008

O curral de pedras


As paredes externas, principais vítimas das demolições recentes, apresentavam aberturas, principalmente na face norte, indicando provavelmente a existência de madeirame de construções justapostas. Não é possível determinar sua natureza, tanto poderiam ser paliçadas quanto currais ou habitações. Única parede parcialmente preservada em toda sua altura, a da face norte da edificação permite estimar entre 2,5m e 3m a altura das paredes externas. Leia mais em Curral de Pedras: Notas sobre abandono e omissão.

O estado da ruína é de completa depredação, desmonte. Acredito que motivados pela busca de algum tesouro sonhado, ao longo dos últimos anos, pessoas desavisadas e inescrupulosas têm sistematicamente demolido o que resta da edificação. Pelo isolamento em que se situa a ruína, nenhuma outra hipótese parece justificar a constante agressão ao edifício. Este é, de resto, o estado geral de todo o sítio arqueológico do entorno de Ouro Preto. Nunca foi dada atenção científica a ele, assim como sempre foi desprezado como atrativo turístico ou como área de preservação.


Essa história toda está contada no livro:


Autor: Públio Athayde

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Curral de Pedras - Face Sul

Milton F. Athayde.
"No inicio de 2007, em visita técnica junto a uma equipe da UFOP, muito estranhou que ao me referir sobre o Curral de Pedra a um dos historiadores responsáveis pelo projeto Parque Arqueológico do Morro da Queimada (projeto que prevê proteção da área e implantação de um ecomuseu nos bairros próximos), ele dissesse que nunca havia ouvido falar, que nem imaginava que existiam tais ruínas. Fato muito estranho devido à proximidade entre os dois sítios. Conheço bem a área do suposto curral e são impressionantes os resquícios de mineração. Sei também que lendas e causos estão ainda vivos na cultura dos moradores locais. As possibilidades de exploração do potencial turístico são imensuráveis, mas o caminho para a sua viabilidade é longo. O projeto do Parque Arqueológico do Morro da Queimada, por exemplo, tem dificuldades políticas de implantação, e mesmo depois de vários estudos realizados e da aprovação institucional, a proteção efetiva ainda não acontece e a atividade turística ainda é totalmente inviável. Seria mesmo muito válida a montagem de uma equipe interdisciplinar para tratar a questão do Curral de Pedra e de seus arredores. Trabalho que seria salutar para a corrida a preservação do acervo histórico e cultural de Ouro Preto. Como ouro-pretano e graduando em Turismo pela UFOP me proponho a contribuir."

Curral de Pedras - Parede Demolida

O entorno de Ouro Preto ainda está repleto de vestígios da atividade mineradora dos séculos XVIII e XIX. São muitos quilômetros de canais, centenas ou milhares de bocas de minas, ruínas de residências, muros e sítios cuja natureza ou função permanece indeterminada. O Curral de Pedras faz parte desse conjunto, situando-se nos limite entre a zona urbana e a rural, destaca-se por sua dimensão e pela hipótese de que não teria sido originalmente um curral, mas uma fortificação. Trata-se de um quadrilátero de edificado com muros de pedra cuja denominação deve ser, segundo meu pensamento, ligada ao uso tardio. As paredes de pedra tinham mais de 2m de altura, com cerca de 1m de largura na base. Havia edificações internas e uma série de obras hidráulicas complementares. A edificação tem sido agredida nas últimas décadas, numa intervenção predatória e rápida; suas paredes têm sido destruídas. Não se tem notícia de referências historiográficas ou documentais sobre o sítio. Leia mais em Curral de Pedras: Notas sobre abandono e omissão.

Essa história toda está contada no livro:


Autor: Públio Athayde

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São Francisco de Paulo - contra-luz

"Esta Capela está em localização perfeita, tendo as serras de Ouro Preto, ao fundo, compondo um belo cenário. De seu adro, há uma ótima vista do conjunto arquitetônico da cidade, perfeito para fotografias. A Capela de São Francisco de Paula foi a última a ser construída em Ouro Preto. O local de reunião da Congregação do Patriarca São Francisco de Paula dos Homens Pardos, criada em 1780, era na pequena ermida de Nossa Senhora da Piedade, que se tornou pequena para o seu grande número de fiéis. Em 1804, as obras foram iniciadas. O risco do novo templo foi elaborado pelo Capitão-mor, Francisco Machado da Cruz. Os trabalhos foram demorados e se estenderam pelo século XIX até início do século XX, devido a problemas financeiros da Irmandade. Durante o Império, a Irmandade contou com auxilio do Governo Provincial em vários momentos." SETUR/MG

Leia Adequação retórico-arquitetônica da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, artigo em que trato de aspectos topográficos e de visibilidade dos templos católicos da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto em função dos critérios de edificação preconizados pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia e relativizados pela topografia local e outras condicionantes locais.
Em primeiro plano o Cruzeiro da Ponte de Antônio Dias. Ao fundo, Igreja de N. Sra das Mercês e Perdões: em 1760, a primitiva capela do Senhor Bom Jesus dos Perdões foi vendida à Irmandade de N. Sra. das Mercês. Conta-se que um nobre paulista assassinou a filha noiva por suspeita de infidelidade; condenado, sua esposa mandou erigir capela ao Senhor Bom Jesus. Construção concluída em 1773.

Ponte e Chafariz de Marília

Esta obra monumental, construída em 1758, é hoje denominada " Chafariz de Marília", por estar num paredão em frente à casa em que morou Maria Dorothéa Joaquina de Seixas, a Marília de Dirceu, amada e noiva de Tomás Antônio Gonzaga. A casa de Marília foi demolida, e em seu lugar construído um Grupo Escolar. Há documentação no Arquivo Público Mineiro, com respeito à contratação das obras de dois chafarizes por Manuel Francisco Lisboa, em 11 de dezembro de 1757: "um ao pé da ponte de Antônio Dias, e outro no Passarão". O contrato do primeiro foi transferido para Miguel Gonçalves de Oliveira, mas não o segundo, que é de supor seja o Chafariz hoje chamado "de Marília". Os vãos que ladeiam o corpo principal da fonte foram outrora nichos ou oratórios públicos. Hoje estão emparedados.

O plano do muro em que se destacam as peças decorativas e funcionais do Chafariz, contém a composição, dividida em três corpos por pilastras e consolos, sobre duplo pedestal e enquadrada por dois cunhais simples. No corpo central destaca-se a grande cartela barroca em Cantaria, com as quatro carrancas por cujas bocas jorra a água. Nos dois corpos laterais os dois vãos emparedados, com marços de Cantaria, verga curva e ornato Barroco com concha ao alto. O Coroamento do corpo central é também em pedra esculpida, em forma de volutas cobertas por acantos e grande motivo ornamental no centro. Voltando à cartela central com as carrancas, é de forma caprichosa e movimentada, com concheados laterais, volutas e grande concha superior, que se liga com o motivo ornamental do Coroamento. A água é recolhida numa grande taça esculpida apoiada no solo. A composição é de uma fantasia bem barroca e grande efeito. Pode ser atribuída a composição ao mestre Lisboa, cuja reputação como arquiteto o levará a executar mais tarde o Risco de belos monumentos, como a igreja de Nossa Senhora do Carmo.


Soneto da evocação
José Benedito Donadon-Leal
.

Eu, Gonzaga, tomado de teu jeito,
feito Dirceu em busca de Marília,
mas sem ter do amor segura planilha
so’adolescente, embora moço feito.
Ouro Preto agita em meu peito
e lá do alto, preso a mais de milha
vejo minha Estrela junto à família
tão feliz, que põe meu sonho desfeito.
Quem sabe a sorte sorrisse pra mim!
Poeta, por tua voz inspirado
joga um milhão de versos nesse fado.
Talvez teus versos evitem meu fim,
mas, como os ter sem luz, por meu pecado,
se o dó dela por mim já é migrado?

Ponte do Rosário

"O dia 24 de junho de 1698 marca a data em que o bandeirante Antônio Dias avistou o pico do Itacolomi e, através dessa referência geográfica, identificou a região de onde viera um tipo diferente de ouro, envolto em cobertura mineral escura, anteriormente encontrado por viajantes e que despertara grande interesse. A partir de então, diversos arraiais surgiram ao redor das minas, no vale do Tripuí, e são considerados hoje a origem da cidade." ANA MARIA FIORI - leia mais.


Ponte do Rosário, ou Caquende, em Ouro Preto/MG. Localizada entre as ruas Bernardo Guimarães e Alvarenga, no bairro do Rosário da cidade histórica, a ponte teve sua estrutura recuperada, com o reforço estrutural do tabuleiro em concreto armado no primeiro semestre de 2006. Foi tentada a recuperação do calçamento, dos passeios, sem sucesso, fizeram na obra violenta depredação da cantaria e do revestimento da alvenaria lateral, além de ter sido refeita a amarração entre as pedras do parapeito e a pintura. A obra teve um investimento de R$101 mil e foi iniciada em março de 2006. A prefeitura providenciou o paisagismo da área e os serviços de limpeza no entorno da ponte, no córrego e nos becos adjacentes, mas depois da reinauguração o entorno foi novamente abandonado e já se encontra muito sujo. O evento da entrega dos trabalhos (a 6/07/2007) contou com a presença do prefeito Ângelo Oswaldo e do chefe de gabinete do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Aloysio Guapindaia. Interessante notar-se que a placa alusiva à efeméride desapareceu na noite que se seguiu à festa, sem que dela nunca mais se tenha tido notícia. O Itacolomi continua ao fundo, aparentemente intocado. Mas que se vá lá para ver. Públio Athayde

Pico do Itacolomi

O Pico do Itacolomi (ao fundo) impõe um ar místico ao cenário histórico de Ouro Preto. Em tupi guarani, o nome quer dizer "a pedra e o menino" (ITA - CORUMI). Para os índios, o pico era visto como o "filhote" da montanha. É fácil perceber isso: uma pedra imensa, com outra menor ao seu lado. Situa-se no município de Mariana, mas sua melhor vista é de Ouro Preto, daí os versos do post que se atecede. Na casa rosada, com escada à frente, nasci e dalí só saí formado.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Soneto da disputa


Oh! Dirceu, disputo-te com Marília,
para mim, Doroteu, qual transmontana
Ouro Preto em disputa com Mariana
pelo Itacolomi, a pedra filha.
Fidelíssima tem a posse antiga,
garante a carta, século dezoito,
mas mesmo contra lei do mais afoito,
a Imperial tem mais vista, daí a briga.
Que vale para as pedras a lei do homem,
ou para mim e para meu Dirceu,
regra escrita, que não escrevi eu?
Que importam argumentos que se somem?
Dirceu será só meu, de ninguém mais,
como o Itacolomi é das Gerais.

O.P. 06/10/96
Públio Athayde
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