quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A coleção do Museu do Oratório

Por André Legos* (et alii)
A coleção do Museu do Oratório, em Ouro Preto, como já sugerido em seu nome, constitui-se de oratórios e imagens brasileiros datados do século XVII ao XX. Feitos de materiais diversos, com a predominância do uso da madeira, a coleção apresenta raridades como o oratório feito em ovo de ema.
O uso de oratórios tem origem na Idade Média e chegou ao Brasil no processo de expansão portuguesa. Inseridos na cultura de diversas regiões, grupos sociais e perdurando por diferentes épocas, os oratórios brasileiros adquiriram diferentes usos e faturas. Portanto, cada tipo de oratório tem a capacidade de documentar o desenvolvimento técnico, a linguagem estética, a relação com o sagrado e as práticas religiosas dos diversos grupos que compunham os períodos que representam.
Considerando os fatores acima relacionados, os oratórios da coleção de Ângela Gutierrez foram classificados de acordo com o uso, forma, local, estética, período e usuário. Dividem-se em quatro grandes grupos: Oratórios de Viagem, Oratórios Populares Domésticos, Oratórios Afrobrasileiros e Oratórios Eruditos e de Referência Artística.
O grupo de Oratórios de Viagem possui oratórios de pequena dimensão, portáteis, que eram utilizados comumente por viajantes, mas também como amuletos e objetos de fetiche. Os oratórios presentes nesse grupo são: oratórios de algibeira e oratórios-pingentes, usados no dia-a-dia e junto ao corpo; oratórios de alcova, utilizado pelas mulheres e passados de mãe para filha; oratório de esmoler, oratórios itinerantes exclusivos do espaço urbano utilizados para arrecadar dinheiro para as irmandades; oratórios-balas, oratórios em formato de bala de cartucheira, fecháveis, de uso comum a viajantes; oratórios de convento, caixilhos decorados, com gravura ou estampa de santos feito por conventos para venda e arrecadação de dinheiro.
O segundo grupo, Oratórios Populares Domésticos, é constituído de oratórios de uso doméstico, ocupavam lugar de destaque na casa, normalmente de grande porte, era usado em preces coletivas. Além de ocuparem também os quartos, ganhando caráter mais íntimo. Normalmente em forma de armário, possuem tamanho e decoração variados de acordo com o uso e a condição financeira do devoto.
Os Oratórios Afrobrasileiros possuem a marca do sincretismo religioso. Normalmente em forma de armários e entalhe simples, esse grupo apresenta exemplares feitos em metal. As imagens não possuem erudição na fatura e os ícones mais usados eram o Divino Espírito Santo, Virgem do Rosário, São Jorge, São Cosme e São Damião, Santa Ifigênia, São Sebastião e Santo Antônio. É comum o uso de símbolos geométrico de significados místicos como elementos decorativos. Nos oratórios eram guardados diferentes tipos de objetos, inclusive colares do candomblé.
Os Oratórios Eruditos são os que possuem referência na produção artística da época. Pertencentes às classes mais abastadas, normalmente são grandes oratórios, em forma de armário, com talha e policromia sofisticada. São recorrentes os temas barrocos e rococós, com a presença de conchas, rocalhas, volutas e rendilhados. Esse grupo possui os oratórios do fluminense Francisco Xavier dos Santos, decorados com conchas. Além desses, esse grupo possui um oratório cuja pintura é atribuída a Manuel da Costa Athayde e uma imagem a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
A maioria das peças que compõem a coleção do Museu do Oratório não possui autoria comprovada, isso devido à assinatura de obras não ser usual. A partir de um estudo da obra e por meio de documentação pode ser possível identificar a autoria. Alguns objetos da coleção são feitos por artífices, que não possuíam linguagem singular, sendo a autoria impossível de ser identificada, por vezes sendo apenas levantados dados sobre a região e o grupo que os fizeram, isto pelo estudo dos materiais, técnicas e linguagem.
*André Legos estuda Museologia na UFOP.
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