sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Olímpia Cota


Fotos de
Joel Marinho


Por Fernando GABEIRA
“Dona Olímpia, ao perceber, nas primeiras décadas de sua vida, que não ia mesmo se casar, caiu no mundo. Teve forças para ignorar a pressão da sociedade que a envolvia, mas resolveu ver de perto. Roupa? Era simples. Bastava inventar, usando um vestido sobre o outro. Horário? Para que, se o frio e o escuro lhe indicavam a hora de dormir e a ligeira pontada no estômago lembrava que tinha fome?

Passou a andar com um cajado na mão, o rosto muito pintado e o chapéu de uma antepassada. A cidade é feita de becos, ruelas e ladeiras. Ela subia e descia, chegando às vezes lá no alto, na Igreja de Santa Ifigênia. Apesar do cajado, do olhar em fogo, ela não pregava nada, nem falava em melhorar a vida na terra. E a ladeira é algo estranho, que desafia mesmo os seres chamados normais. Sim, porque a cabeça chega em cima muito antes das pernas, de forma que cada ladeira é um mergulho no inconsciente, um deliberado abandono do corpo, condenado a repetir mecanicamente o mesmo gesto."



ATHAYDE, P.
Detalhe de Primavera,
OST, 2007.

Olímpia: Obra de Chiquinho de Assis gravada pela Orquestra Experimental da UFOP para o filme Compositeurs de hier et d'aujourd'hui de Luc Riolon. Uma produção 24 images, América Mundi Filmes e Rede Minas.




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