quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ouro Preto: a Praça não é do povo

Flávio Andrade repudia
a forma do 21 de abril
Carta de Protesto redigida pelo Vereador Flávio Andrade

Este 21 de Abril ficará na memória dos ouro-pretanos. Nos meus 55 anos de vida, não me lembro de comemoração mais ostentativa e desrespeitosa para com a minha terra.

A Praça Tiradentes, coração de Ouro Preto, ficou praticamente fechada por uma semana, atravancando o funcionamento da cidade viva. Na entrada do espetáculo da Bibi Ferreira, fomos revistados humilhantemente, como se fôssemos assaltantes ou terroristas. Ouro-pretanos que saíram pra trabalhar nesta terça feira foram proibidos pela Polícia de passar a pé pela Praça Tiradentes. O monstruoso aparato montado para a comemoração assustou a todos.

Em tempos de crise, a gente se pergunta: quanto custou esta festa? Palanques enormes na Praça Tiradentes e na Praça da UFOP. Centenas de policiais. Dezenas de técnicos e operários por uma semana em Ouro Preto. Transporte e a alimentação pra este povo todo. Equipamentos de som e luz sofisticados, montados nas duas praças. Grades fechando cada canto onde alguém poderia passar. Helicópteros cruzando o céu pra lá e pra cá o dia todo. Centenas de flores e medalhas. Horas e horas de trabalho de servidores do Governo do Estado. Cachês de artistas. Ônibus e mais ônibus transportando claques com pulserinhas e bandeiras do partido do Governador.

Será que não dava pra homenagear a Inconfidência Mineira de maneira mais digna e verdadeira? Será que este show-bussines não bate de frente com os famosos e tão decantados ideais da Conjuração Mineira? Será que não seria mais respeitoso com a memória de quem morreu pelo Brasil fazer um evento menos espalhafatoso? Será que não bastaria colocar uma coroa de flores aos pés de Tiradentes, como Juscelino fazia?

Patrocinar esta gastança de dinheiro público num tempo de crise e desemprego é rir do sofrimento e da dignidade do povo mineiro.

Não é esquisito comemorar a Liberdade proibindo pessoas de andarem em sua própria cidade? Revistando pessoas de bem como se fossem bandidos.
(...)
Sou contra este tipo de comemoração. Ouro Preto quer outro tipo de festa. Quer um evento com a participação de autoridades, artistas, policiais e, principalmente, dos donos da casa.

Os ouro-pretanos, de nascimento ou por adoção, dividimos nossa praça literalmente com o mundo todo. Só pedimos respeito.

Flávio Andrade
Vereador do Partido Verde de Ouro Preto 
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21 de abril em Ouro Preto - Gentrificação

A praça Tiradentes em 21 de abril é
o contrário do que o povo deseja
Chama-se gentrificação (um neologismo que ainda não consta dos dicionários de português) ou enobrecimento urbano, de acordo com algumas traduções, a um conjunto de processos de transformação do espaço urbano que ocorre, com ou sem intervenção governamental, nas mais variadas cidades do mundo [1]. O enobrecimento urbano, ou gentrification, diz respeito à expulsão de moradores tradicionais, que pertencem a classes sociais menos favorecidas, de espaços urbanos e que subitamente sofrem uma intervenção urbana (com ou sem auxílio governamental) que provoca sua valorização imobiliária.

Esses processos são criticados por alguns estudiosos do urbanismo e de planejamento urbano devido ao seu comum caráter excludente e privatizador. Outros estudiosos, como o sociólogo Richard Sennett da Universidade Harvard [2], consideram demagógico o caráter das críticas, argumentando que problemas urbanos não se resolvem com benevolência para com as camadas mais pobres da população e, na sua opinião, só se resolvem com alternativas que reativem e recuperam a economia do local degradado.

Leia tudo sobre 21 de abril, depois leia ainda:  Olhos que viram Ouro Preto - Direito à tradição - Presépios

21 de abril em Ouro Preto IV

Praça tiradentes em 1956
"É incrível como após anos e anos dessa festa (?) sem nenhuma relação com a cidade em si ainda persistam em montar esses "monstrengos" de estrutura metálica, de pouquíssima funcionalidade e de gosto bastante duvidoso.... Cafona!!! "
Sérgio Rafael do Carmo

Isso é um tapa na cara que levamos a cada ano, proibidos de usar nosso espaço, insultados em nome da liberdade. Getulio Vargas, Figueiredo, Lula e Aécio foram protagonistas desse insulto a nós todos.

"Leva-nos a pensar: a que se destinam as cidades patrimônio cultural da humanidade? O tempo tem mostrado que esse título insere o que se chama gentrificação. As decisões acerca da cidade não são expressas pela vontade do povo daqui. Esse evento é arbitrário, parece incontestável. Mas se enchem os hotéis, as lojas de pedra, os restaurantes e tem veiculação forte na mídia. É excludente, revoltante. Mas, serve de trampolim político. A quem serve o tal título? A bem poucos, me parece. "
Milton Ferreira Athayde
Leia tudo sobre 21 de abril, depois leia ainda: Desarticulando - Ideias ouro-pretanas - Sexo dos anjos - Fotos de criança

21 de abril em Ouro Preto III

A maioria das pessoas conhece as imagens da Praça Tiradentes em Ouro Preto, mas essas fotos que estou postando aqui envergonham qualquer ouropretano, são exemplos da humilhação que nos é imposta anualmente, quando privatizam a nossa praça para uso do governador. Somos proibidos de usar nossa ágora em nome das liberdades democráticas.

Aspecto da Praça Tiradentes entulhada
Ali deve ter havido um trapézio, nele deve ter se pendurado outro governador...

Estátua de Tiradentes poluída por montagens
Lá do seu alto, Tiradentes pode ter se perguntado:
- E que tenho eu a ver com esse circo?

Antigo prédio da Escola de Minas
O velho palácio-escola-museu escondido por novidades transitórias.

21 de abril em Ouro Preto II

Basta alguma sensibilidade para que se veja o que é feito em Ouro Preto em nome das liberdades cívicas e do louvor à memória do Tiradentes.

Palcos e palanques na praça Tiradentes
O desmonte do circo em que os palhaços não respeitaram o público.

Sobrou apenas a capela do Palácio dos Governadores para ser vista
Pena que a arquitetura do XVIII tenha sido escondida por andaimes.


O sépia não esconde a tristeza na praça Tiradentes
A velha Praça, desmontada de novo.

21 de abril em Ouro Preto I

Pensei escrever uma cônica sobre o 21 de abril em Ouro Preto, concluí que bastam algumas legendas mostrando a praça Tiradentes sendo desmontada, depois da renovação do triste espetáculo da liberdade conspurcada.

Pode-se entender a praça Tiradentes assim?
O palácio-escola-museu, eclipsado por um telão de pisca-pisca.

Pode-se aceitar a praça Tiradentes assim
Lá no fundo, pode-se ler, bem escondida no palanque, a palavra liberdade:
envergonhada do uso que fazem dela.


Anualmente se repetem esses abusos em Ouro Preto
Tamparam a casa do Pilão com um telão... 

sábado, 18 de abril de 2009

O som, o tom e a melodia colonial ...


A caverna em que habito fica numa região em que há muitas outras. Passei nela uma madrugada acordado, tentando ouvir o silêncio da noite – nem havia estrelas. As outras pessoas que vivem comigo não produziam nenhum ruído, provavelmente dormissem...
Mas o que menos pude ouvir foi o silêncio. Não havia nenhum fogo em minha espelunca, mas várias luzes penetravam pelas frestas, nenhuma delas natural. Mas havia ruídos das cavernas adjacentes, de todos os lados, das pessoas transitando entre elas, e dos fogos sempre acesos em algumas delas, de animais... Nunca há silêncio, quando há tantas cavernas.
Do silêncio da noite, aquele que nos permite ouvir a voz das estrelas, só pude ter a saudade de algum dia bem distante quando estive em lugar bem menos habitados, lugar em que o fogo mais perto, em linha reta, teria viajado alguns anos antes de chegar a mim. E os ruídos eram das folhas, dos insetos, o ar se movimentando... Sons que não se sobrepõem ao éter ou ao atrito da atmosfera com o planeta em seu giro diário.
Fiquei imaginando qual seria, há 200 anos, o som da noite no lugar mesmo em que nasci ... Quando ali haveria poucas cavernas e a centésima parte das pessoas dentre as quais eu vivo. E muito poucos lumes e candeias competiam com a radiação dos astros.
Entendi então que, para ter uma idéia qualquer sobre a noção de som, a compreensão de tons e a melodia da música colonial, o ponto de partida seria a aceitação do fato de que os habitantes das cavernas por perto de onde eu nasci, 200 anos antes dessa efeméride, seriam em número muito menor, teriam muito menos fogos a crepitar pela noite, ficariam muito mais recolhidos depois de o sol se por... E estariam muito mais propriamente afetados pela calada da noite. E não é na calada da noite – agora no sentido moderno mesmo da expressão – que estamos mais afetados pelos medos, pelas melancolias, pelos fantasmas e pelas fés? Acredito que a centésima parte das pessoas produzam a centésima parte dos ruídos e tenha motivos para ter cem vezes mais medos.
Fico imaginando a acuidade auditiva dessas pessoas acostumadas a perscrutar dentre o mais profundo abismo sonoro das noites setecentistas os ruídos mas horripilantes das travas e os mais alentadores hinos angelicais.
Nesse contexto de outrora e de agora, dois elementos de análise surgem a se considerar: o som enquanto fenômeno físico e, simultaneamente, inserido em concepções culturais; e, do outro lado, a música propriamente dita, isto é, o som “culturalmente organizado” pelo homem.
O Pe. José Maurício deslumbrando D. João VI e respectiva
Corte com a sua música, segundo Henrique Bernardelli.
Acervo do Ministério das Relações Exteriores, RJ.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Um magistrado honesto ou anjo macho?

Finalmente encontraram um magistrado justo? Pode apagar Diógenes sua lanterna? Resolveram finalmente a questão do sexo dos anjos? Janela agora é lugar de criança sentar? É necessário dar asas à imaginação das crianças? A parede da casa é torta ou fotógrafo tinha bebido? Para bom cristão, se já tem penas, que lhe falta? Será que ele fez isso pra ganhar chocolate?

Quantas perguntas pode suscitar uma foto... mas a explicação de tudo é a seguinte: foi em Ouro Preto.

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