Falar das cidades é falar das pessoas, são estas que fazem aquelas. Ouro Preto é padre Simões, pois o digno sacerdote fez a cidade ser parte do que ela é hoje. Padre Simões foi Ouro Preto, pois a cidade, a urbe e o povo, sempre foram o epicentro de seu pensamento e sua obra.
Padre Simões descansou essa semana; eufemismo apropriado para uma vida de trabalhos sacerdotais. Dedico esse post mais à homenagem familiar, da relação pessoal entre nossos clãs muito anterior ao meu nascimento ou mesmo ao dele. A vida pública do Vigário do Pilar deixo para outros relatarem.
Quanto a minha relação com Pe Simões, vou apontar dois aspectos pessoais que ilustram tudo mais: em primeiro lugar, encontrei-me com ele no rito batismal, não como inúmeros que ele batizou no exercício de seu dever de sacerdote, mas também como afilhado: padre Simões e sua irmã, dona Lúcia, se tornaram meus padrinhos na casa de meus pais, onde recebi o sacramento às pressas, pois eu estava morrendo (felizmente, como podem constatar, escapei de morrer, mas não escapei de ser feito cristão à minha revelia). Em segundo lugar, ele me deu minha primeira bicicleta! Sabem a importância que tem para um moleque a primeira bicicleta? Pois é... Tendo me dado aquele presente, padre Simões garantiu em meu imaginário, eternamente, um lugar de respeito e gratidão. Isso para destacar apenas o mais importante de uma série de agrados durante toda minha meninice.Não resisto, vou apontar mais uma coisa que fazia meu padrinho e que era absolutamente notável: ele gostava de picolés, por isso, quantas e quantas vezes, quando eu estava na casa dele (a casa paroquial), ao passar um menino vendendo picolé na rua, padre Simões nos comprava não um ou dois, mas mais de uma dúzia de picolés do Crispim (excelentes!) e chupávamos todos, um após outro... Pode haver homem mais fabuloso que o que nos dá bicicleta e compra montes de picolés?
Depois que fiquei adulto, dei pra ter opiniões diferentes das dele em muitas coisas: distanciamo-nos - que bobagem. O respeito e o afeto não foram prejudicados pela divergência.
Padre Zé, como meus familiares mais velhos se referem a ele, foi contemporâneo de grupo de minha tia Lybia; ela tinha grande afeição por ele. Para ilustrar esse artigo, uso a foto que ele ofereceu a ela, por ocasião de sua ordenação, e as páginas que ele inscreveu no livro de recordações dela.
Ficam a foto e as palavras como testemunho do afeto entre as pessoas e as famílias.
Fica o mais como tributo e memória de uma bicicleta roxa e muitos picolés de coco e limão.